Tulipas by Salgado Maranhão
O vento leste veio deitar-se
com as tulipas
no mesmo palco
em que libélulas de sangue
lampejam entre edifícios.
Raríssimas
vinhetas de sol
patinam
no esterco.
E a fúria do plasma
escrita no asfalto
torna improvável
o tempo dos idílios.
Ó placenta de narconiños e artefatos
de desova!
Ó lírio ensagüentado!
Por quem toca esta salva
de guizos?
Nos vultos que se erguem
do irrevogável abismo
também as palavras
ladram,
também os olhares ávidos
despem o ouro das manhãs
insignes.
Tigre de Origami by Salgado Maranhão
Para Alice K.
Límpido o papel em branco
ladra (sob o tempo quântico),
as nossas rasuras raras,
desamares, mãos avaras,
lavas de sangue (e bem mais
que esta babel de fonemas
- incisa de vãs verdades -
arde), ao clã de veleidades
onde 1 + 1 não são dois
nem o verbo rege a luz,
pois o mundo às vezes teme
que a palavra se apoeme.
E se o monitor delata
o papel fora de pauta,
límpida a lauda – em seu nada –
soletra o silêncio, alada
ao caos. Nem fogo dispersa,
nem água é algo que impeça,
que num átimo ela se arme
em um tigre de origami.
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